Capítulo1: Continuidade - Jack, Rafa, Rodrigo

Bairro Goiabeiras
Casa do Diego
08/06/2009
Manhã

- Vamos, Jack! - grita uma voz desconhecida - Nós não temos muito tempo!

A visão é turva, o chão treme, as pernas estão cansadas, mas Jack precisa sair daquele lugar. Ele vai desabar!

O som está abafado, as coisas caem ao redor, muita poeira. Ou fumaça?

Jack corre, mas mal parece sair do lugar, uma agonia toma seu corpo e logo surge uma vontade de gritar.

Alguém se aproxima rapidamente e o segura pelo braço. Jack sabe que é amigo e está ali para o guiar.

O chão treme muito, o aliado desaparece, Jack não sabe dizer o que aconteceu. De repente tudo fica claro.

Jack acorda.

O cheiro de café é bom, e vem da cozinha no primeiro piso. Como um ritual, Diego acorda cedo todas as manhãs e faz café, digno de apreciação. Normalmente todos se sentam na mesa no mesmo horário para tomar café da manhã. E na memória de cada um, é algo alegre.

Mas hoje, parece mais um daqueles dias de ressaca em grupo. Ninguém bebeu, mas todos passaram horas na delegacia dando depoimento sobre a morte de Natália Alencar. Jack foi o que ficou mais tempo sob investigação já que era mais íntimo da anfitriã. E foi muito difícil não contar ao delegado que ela alegou ser perseguida dias atrás, até porque não se faz idéia de quem a perseguiria e qual seria o real motivo. E pior, parece que ninguém além de Jack sabe disso. A polícia muito quis saber se ela deixou uma mensagem, mas ninguém sabe se deixou ou não.

Diego, embora não seja amigo de Natália como Jack, parece incomodado com a situação.

O único que parece estar mais disposto é Rodrigo, que acabou não indo na festa por motivos pessoais.

Rafa é o último a sair de seu quarto e se juntar à mesa.

Pão, rosquinha, bolacha, leite, frutas. Tudo para um completo café da manhã. Nada em demasia, apenas o que vocês realmente consomem. Aqueles mais apossados ainda desfrutam de cereais e suplementos alimentares.

O sol está intenso lá fora, mas a cozinha é fresca. O café da manhã está tão bom quanto silencioso.

Mente em confusão... Um aparente desastre e uma pessoa que, seja lá de onde tivesse aparecido, estava ajudando-o.
Jack não fazia idéia do que estava acontecendo, mas fosse o que fosse, melhor sair dali. Mas antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, a claridade toma conta de sua visão.

Ele acorda.
"Que sonho estranho...", pensa. Jack não costuma sonhar durante o sono, mas os poucos sonhos que surgiam dificilmente envolviam uma situação de quase morte.
Qualquer menção a morte nesses últimos dias trazia de volta a lembrança do suicídio de Natália, e dadas as várias horas de depoimento na delegacia, menções a morte não faltaram.
Mas era melhor tentar não pensar nessas coisas. Jack se levanta e vai ao banheiro. Uma ducha fria seria ótima para terminar de acordar, e sem dúvida lhe faria bem. Se antes ele achava Irecê, sua cidade natal, quente, começava a repensar seus conceitos depois de ir morar em Cuiabá. Mas desde sempre a água sempre lhe ajudara a esquecer os problemas por alguns momentos.

Ao voltar ao quarto, enquanto vestia uma roupa, ele repara que o suor no lençol da cama ainda não secara. Tinha suado mais que o normal essa noite. Resultado do pesadelo? Não sabia. Só sabia que ainda se sentia perturbado pelos últimos acontecimentos. Sua fuga durante o sonho lhe trouxe a lembrança de uma breve conversa com Natália, tempos atrás, quando ela lhe revelou que alguém a perseguia.
Ah, como ele queria se livrar daqueles pensamentos. Ainda era de manhã e sua cabeça já doía. Dizer que ele estava de ressaca seria, realmente, uma expressão aceitável, mas ela não passaria por mais água que Jack tomasse naquele dia.

Vestido, Jack vai à cozinha tomar sua refeição. Ele não gostava de café, mas tinha de admitir que naquele dia o cheiro da bebida realmente lhe chamou a atenção. Diego estava melhorando no preparo, aparentemente. O jovem baiano tentaria, ainda que por poucos minutos, esquecer novamente sua dor de cabeça e pensamentos encadeados e aproveitar o desejum da maneira mais desprentensiosa possível.

- Mano, tive um sonho muito doido essa noite. Sonhei que estava fugindo de um prédio desabando. Que fim bacana pra um estudante de engenharia, hein!

Rodrigo acorda e olha a hora. Havia acordado cedo mas não estavafim de ficar na cama. Havia tido um sonho estranho, sonhou que estava voando, tinha asas e alcançava cada vez mais alto...até que suas asas desapareceram do nada. E ele caiu..mas não sentiu a queda pois foi o momento em que acordou, com o sol entrando pela janela, indo direto na sua cara.

Desce e toma uma ducha, antes de seguir para a mesa e encontrar os outros.

O clima estava meio estranho, obvio que estava. Ele não havia ido a festa mas soube o que aconteceu, deve ter sido uma loucura.

Diz um "Bom dia" para quem já estava na cozinha e se serve de frutas e biscoitos. Permanece calado enquanto come, mas não consegue se segurar ao ver Jack chegar:

- E então Jack? Como foi tudo?

Era insípido tocar naquele assunto como primeira coisa do dia mas Rodrigo estava curioso, pois não havia estado na festa.

Jack não podia acreditar. Aquele assunto logo pela manhã? Aquela era mesmo a primeira pergunta do dia?
Apesar de um pouco chateado, Jack resolve relevar, afinal Rodrigo não estava diretamente envolvido na situação.

- Foi tudo muito confuso... A gente tava lá na festa quando começou um alvoroço. Quando fomos ver, a Natália tava lá no chão. Não sei nem quem foi que chamou a polícia, mas eles não demoraram a chegar. A Natália era rica, afinal... Depois disso começaram os interrogatórios, demarcação da cena do crime, e o clima ficou ainda pior do que antes...

Falava tudo enquanto andava até a mesa e tomava um assento. Se fosse tomar por base a manhã, o dia realmente não seria bom. Ele prepara um pão com manteiga, começa a comer e fica quieto durante o resto da refeição.

- E o "bom dia" que é bom, nada né?...

Diego brinca para tentar descontrair o ambiente estranho, mas pouco adianta.

- Eu só queria entender o motivo dela ter cometido suicídio... Há alguma coisa sombria por trás disso tudo. Algo que o delegado está tentando descobrir... Ou encobrir...

Diego comenta e se mantém sentado apenas tomando café, pensativo.

A noite fora muito cansativa e pouco se falou depois que voltaram para casa.

Rafa acorda e demora um tempo para lembrar de tudo o que aconteceu. Ele iria levantar, mas escuta que alguem está tomando uma ducha, então resolve esperar um pouco, ou o seu sono resolve esperar um pouco. quinze minutos depois, está de ducha tomada, roupa vestida e corpo cansado.

Entra na cozinha e vê que as conversas não estão muito animadas...

- Bom dia corinthianos... Tá tudo na paz, sem neurose, pelo menos até eu comer algo!

Senta na mesa e prepara um lanche pra ele, e achocolatado...

- É, o clima hoje está tenso...

Jack come o pão e fica quieto o resto da refeição. Quando Rafa chega, apenas acena enquanto mastiga.
Ele se lembra das várias conversas que teve com Natália. Uma memória sombria retorna à sua mente...